quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Bourdieu Desafia Mídia Internacional

A sentença atribuída a Platão é retoricamente citada por Pierre Bourdieu, em seu discurso dirigido aos controladores dos sistemas de comunicação de massa europeus, intitulado Bourdieu desafia mídia internacional. O sociólogo trata enfaticamente da relação dos difusores da produção cultural e sua disposição de inserir o material simbólico, que compõe o universo da construção midiática, como sendo constitutivamente uma mercadoria e, portanto, regida pela mesma lógica que fundamenta a base infraestrutural, arregimentada pela organização econômica, portanto, determinada original e operatoriamente pelo que se convencionou denominar lógica de mercado, não se restringindo apenas ao limiar da economia substancial, mas ampliando indefinidamente os limites de suas formações sistêmicas de modo a ocupar deterministicamente todas as atividades coletivas, tal que seu modus operandi, como evidência determinada de sua estruturação (imanente), corrobora forçosamente o modus vivendi enquanto chancela eclipsadora do ideologismo que num momento o determina e noutro é reabsorvido no fluxo circula(r)tório que designa a viciosidade em que se fundamenta: produção material e simbólica unidas numa cumplicidade patológico-patogênica em que a validade de um coopta a intermitência inversamente proporcional, para não dizer simétrica, de seu "alelo" - e a manutenção do grau recíproco estabelecido aí.
Ninguém é mau voluntariamente. Esta sentença, antes de ser puro ajuizamento moral, é um indicador modal e sintomático do que, no Sujeito, são suas formações basais e a conjugação catoptrônica sujeito-objeto na práxis realizada, a saber, o mal radical que o constitui estruturalmente e que deve ser considerado como apriorístico, conditio sine qua non, em que, também aí, a lógica que fundamenta a subjetividade enquanto um sistema, mantém imanente um problema da mesma ordem do que fora apontado na estruturação econômica, e que Freud também apontara com a designação de fundamento econômico da libido, como um balanço oposicional de campo vetorial - é fundamento sistêmico com seus dois princípios basilares: homeostase e entropia, eis a tradução que consideramos mais profícua para marcar o nexo entre o sujeito e a trama social. Eis o princípio, para além de mal e de bem em sua origem suposta, vertido em mau/bom no logro da consciência, quando das efetuações objetivas do princípio de prazer, fundado na dialética sujeito-objeto - representação-coisa, em que o modus operandi sistemático é a supressão/assimilação do outro em excursos metonímicos - a lógica do Desejo (constitutivamente dialético) freudiano como princípio de subjetividade: homus omni lupus [1]pode, com pouca ou nenhuma hesitação, por receio de parecer excesso de moralização parcimoniosa, pôr-se ao lado de ninguém é mau voluntariamente e do mal-estar imanente ao princípio de prazer ou à lei do gozo, ou, ainda, o que é análogo, e tradutível, pela lei econômica do menor esforço, vulgo, “mais por menos”.
A subjetividade se puta na dicotomia pulsátil e teleológica de suas formações, entenda-se, o movimento no qual se realiza mantém em si o princípio de sua própria derrisão, negativa, antitética. Ser para morte? Ser para não ser, isto é, o ser que é para o não-ser que é não. É para a assimilação, de seu duplo antitético, que se inclina o sujeito em vias de realização, tendencialmente (e tragicamente) derrisória, em si, a priori - é como ressurgimento ou retorno sintomático (que é metáfora sobre analogia) desse recalcado estrutural que os fundamentos da Cultura se mostram, tais quais os desdobramentos modais da Ideologia em ideologismos segmentares, ou ainda, Discurso, na vigência desses mecanismos de base, donde, em sucessão, fundamentos perceptuais hiperdeterminados[2] sistemicamente, representações imaginárias caudatárias (em que o objeto já está sobredeterminado[3] pelas formações do Sujeito), implicando necessariamente valorações (axiologia), por escalonamento como fundamento perceptivo (tempo e espaço como categorias a priori), vertidas em significações no enunciado compartilhadas, logo, Ideologia - representação (simbólico inscrito no Imaginário) e práxis concreta, mormente reafirmação do habitus[4] - (sem que seja necessário expor pormenorizadamente o processo primário que a constitui - alienação > reificação > fetichismo - tanto nas formações do Sujeito quanto da Cultura) : as modalizações paradigmáticas vertem-se em contingências culturais limitadas pela realidade e em idiossincrasias particularmente dispostas, seus graus relativos - variáveis e variantes. Daí que: “ninguém é mau voluntariamente” - o mal radical é imanente, e é próprio da disposição dialética do Sujeito realmente disposto no mundo, em toda sorte de variáveis modais possíveis e factíveis. Homus omni lupus – “Homem lobo do homem” (e vice-versa), "caçador" inclusive de si (não se faz mister esmiuçar as segmentações virtuais do comparecimento dessa lógica, passim, - são inumeráveis).

Nenhum comentário:

Postar um comentário